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Os recursos vivos e não vivos do oceano têm sua representação nos âmbitos econômico, social e ambiental. Esse tripé está amplamente interligado e cada uma dessas relações tem a sua importância na vida marinha e na zona costeira. Um ponto fundamental que engloba as três áreas é a poluição marinha e suas consequências. 

Devido a poluição terrestre que chega aos mares, o lançamento de efluentes, crescimento exacerbado da população costeira, descarte incorreto de lixo, atividades portuárias e petrolíferas, a condição e qualidade do litoral está decaindo. Do litoral para as comunidades caiçaras, para a qualidade do pescado, para questões de saúde pública e desequilíbrio do ecossistema marinho, contaminantes e resíduos tem sido um obstáculo. 

Metais por exemplo, são elementos que ocorrem naturalmente em baixas quantidades no ambiente aquático; contudo, a atividade industrial tem elevado as suas concentrações naturais ocasionando a contaminação dos ecossistemas aquáticos. Os organismos que habitam essas áreas contaminadas são geralmente expostos a elevadas concentrações destes elementos, o que prejudica em suma atividades reprodutivas e fisiológicas. Cada contaminante tem um centro de ação específico que altera diferentes atividades nos animais. 

Como consequência, a principal via de intoxicação de seres humanos por poluentes, associados a sistemas aquáticos, é o consumo de pescado contaminado. Os riscos à saúde associados a ingestão chegam a ser de 20 a 40 vezes mais elevados do que o resultado de ingestão de água contaminada. Isto é observado devido ao fato de que os organismos aquáticos são capazes de concentrar os elementos em até 105 vezes as concentrações observadas no meio ambiente. 

Peixes predadores, que estão no topo da cadeia alimentar, tendem a apresentar concentração mais elevada de contaminantes, devido ao seu hábito alimentar. Tubarões, por exemplo, são animais topo de cadeia e sua carne, cação, é muito apreciada no país. Além da maioria das espécies de tubarão estarem ameaçadas de extinção, sua carne apresenta altos índices de mercúrio, vindo a ser problema de saúde pública. Estudos no Brasil já mostraram que a concentração do mercúrio em cação já atingiu cinco vezes mais que o permitido em alguns exemplares estudados. Pelo risco principalmente neurotóxico e ao caráter teratogênico (má-formação, passado da mãe para o feto), há necessidade de restrição no consumo, fiscalização, aplicação da legislação e monitoramento das espécies de cação empregadas como alimento.

As comunidades caiçaras e pescadores são, muitas vezes, a linha de frente para o enfrentamento desse problema. Localizados no litoral, eles sofrem influência direta desses contaminantes no dia a dia. O canal de Santos e o Polo Industrial de Cubatão, formam um ecossistema continental-marinho que desde a década de 90, já ultrapassou o limite de saturação da capacidade de suporte à contaminação química. Isso torna-se um problema de qualidade ambiental e saúde pública, quando essa região, se caracteriza pela manutenção de uma atividade pesqueira, em alguns casos ainda familiar, fornecimento da base diária de proteínas da dieta para as comunidades, geração extra de renda com a venda do pescado a bares e restaurantes. 

Nós, como cidadãos, temos como direito nos manifestarmos e construirmos uma voz ativa que traga luz a problemas que estamos a enfrentar, sejam eles ambientais, econômicos, políticos, sociais, tudo está interligado e são, portanto, áreas de interesse público. Cabe a todos nós exercermos nosso direito de voz democrática, e fazermos nossa parte na conscientização junto a má política ambiental. 

 

Luiza Rossato Pereira

Graduanda em Ciências Biológicas, com habilitação em Biologia Marinha e Gerenciamento Costeiro, pelo Instituto de Biociências - UNESP – Câmpus do Litoral Paulista.

 

Bibliografia

 

HEALTH ORGANIZATION. Methylmercury. Geneva, 1990. 169 p. (Environmental Health Criteria, 101)

Romani, Carlo. "O discurso cultural e ambientalista das comunidades de pescadores caiçaras na luta pela terra: uma análise histórica do conflito ambiental no canal de Bertioga, na Baixada Santista." História Oral 2.14 (2011): 31-62.